Fenajud finaliza Seminário de Formação Sindical com alerta para sindicatos

A saúde do trabalhador, considerando a resolução 219 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e os avanços tecnológicos, como o Processo Judicial Eletrônico (PJE) e o Teletrabalho, foi destaque na fala do presidente da Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário nos Estados (Fenajud), Luiz Fernando Souza, durante o II Seminário de Formação Sindical, na sexta-feira (20), em Porto Velho – RO.

Segundo o líder sindical, os recentes avanços do Judiciário brasileiro visam apenas o aumento da produtividade, imputando ao serventuário da Justiça cargas de trabalho humanamente desgastantes. “A modernização do processo de trabalho é vantajosa para a instituição, mas o trabalhador precisa considerar sua vida social e familiar, para que não acabe adoecendo no afã de cumprir metas que o escravize”, alertou.

A Presidente Adda Lobato e a Diretora de Política Sindical Liege Mendes estiveram presentes no II Seminário de Formação Sindical da Fenajud.

Luiz Fernando chamou atenção para a resolução 219 do CNJ, que dispõe sobre a distribuição de servidores, de cargos em comissão e de funções de confiança nos órgãos do Poder Judiciário de primeiro e segundo graus. Segundo ele, é um aproveitamento de mão de obra que precisa ser avaliado com critério, considerando a qualidade de vida do servidor público.

Sobre o Teletrabalho e o PJE, Luiz Fernando, diz que o perigo é o trabalhador do Judiciário se tornar cidadão ‘Just in time’, inteiramente a disposição do trabalho. “Seremos como trabalhadores de linha de montagem virtual, despencando em nossa qualidade de vida, tornando-nos como zumbis modernos, que só pensam no trabalho”, salientou. “Precisamos nos opor a esse sistema que, em nome do aumento da produtividade, nos tolhe cada vez mais o tempo que dedicaríamos a família e ao cuidado com a saúde”.

Renovação

Ainda na sexta (20), o diretor de Formação Sindical da Fenajud, Job Miranda, fez um alerta aos presentes “Este sindicalismo do presente já não serve mais. Precisa ser repaginado ou mesmo reinventado”. Esta análise conclusiva foi o cerne da palestra proferida por ele.

Segundo o sindicalista, esses novos tempos que se apresentam exigem que as entidades classistas façam uma profunda reflexão no sentido de reinventar o movimento sindical. “Precisamos de um grande seminário ou uma conferência nacional, envolvendo o sindicalismo brasileiro, para que seja tomado um novo caminho para a defesa dos direitos do trabalhador”.

Sobre a formação sindical, Job Miranda acredita que muita coisa já vem sendo feita com sucesso, mas, segundo ele, ainda há muito em que avançar. “A formação tem que ser feita também por meio da divulgação e difusão de ideias, voltadas à formação de opinião, em mídias, em espaços de debates e deliberações do movimento sindical e mesmo da sociedade civil”, avalia.

Em geral, diz ele, tudo que se faz ou se pratica no mundo sindical tem a ver com formação. “É que a formação perpassa em todos os espaços e lugares das atividades do sindicalismo. Em resumo, é um processo de ensino-aprendizagem teórico/prático”, acrescenta.

Como medida apontada para a renovação do sindicalismo, Job Miranda afirma que é preciso resgatar a acultura do companheirismo, da camaradagem e, fundamentalmente que se vivencie a amabilidade no movimento sindical. “O sindicalismo envelheceu, é indispensável um fecundo incentivo, a participação de jovens e de mulheres”, acentuou, acrescentado que é preciso avançar para desmercantilizar a vida, descolonizar a mente, democratizar a democracia e revolucionar a educação.

Perspectivas

Os desafios do sindicalismo brasileiro, frente às novas realidades do marcado de trabalho, foi o tema que abriu o ciclo de palestras do II Seminário de Formação Sindical, nesta sexta-feira (20/10).

Marcio Pochmann, Doutor em Ciências do Trabalho e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), falou sobre o futuro do trabalho, considerando a atual conjuntura, e apontou os desafios do sindicalismo na atualidade.

Antes de abordar o tema principal, Pochmann fez um resgate histórico da evolução da exploração da mão de obra na geração de lucro para as empresas e de como os sindicatos, em seus primórdios, encaravam a luta de classe. Segundo o professor doutor, para nortear os próximos passos, os sindicalistas devem compreender que o trabalho passa por uma transformação irreversível por conta do avanço tecnológico.

“A tecnologia faz parte do dia a dia dos trabalhadores. A entidade classista tem que compreender como essa influência atua na vida do trabalhador e, muitas vezes, tem que assimilar essa novidade, utilizando-a como um fator de aproximação entre sindicato e a categoria por ele representado”, comenta fazendo alusão aos novos meios de comunicação que, segundo ele, tem modificado inclusive a forma de absorção de conhecimento.

Sobre o sindicalismo brasileiro, Pochmann fez considerações enfatizando os desafios, limitações e possibilidades, com foco nos aspectos organizacionais, econômicos e políticos. “Muitas pessoas não dão atenção às lutas de classe, o desafio é encontrar meios de se aproximar desse público e atraí-lo para perto do sindicato”, explicou, acrescentando que, estratégias existem e que elas devem ser estudadas e aplicadas no dia a dia.

Pochmann usou como exemplo o ex-presidente norte-americano Bill Clinton que, segundo ele, durante a campanha presidencial, se aproximou dos eleitores que ‘não estavam nem aí pra ele’ de forma estratégica. “Tinha um público que gostava de pescar, então, em certa foto, Bill Clinton apareceu pescando. Ele ganhou o carisma de alguns, só porque estava fazendo algo que aqueles eleitores gostavam, a pesca”, exemplificou. Ao final da palestra, foi aberto espaço para perguntas e exposições sobre o tema abordado.

Com informações da FENAJUD 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Fale com a gente